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08/06/2020 - A economia começa a sair do fundo do poço, mas ele é bem fundo

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Por CNN Brasil Business | André Jankavski

 

Parece que o pior já passou para a economia. Um dos primeiros sinais que mostram isso é a recuperação das vendas em todos os segmentos do varejo no mês de maio. Na comparação com abril, em que a quarentena pegou diversos empresários de surpresa, a maior parte dos estados mostrou uma recuperação. Mas, na comparação anual, o estrago ainda é grande.

O diagnóstico é reforçado pelo indicador IGet, realizado pelo Santander e pela empresa de meio de pagamentos Getnet, obtido em primeira mão pelo CNN Brasil Business. As vendas do varejo em maio tiveram uma alta de 11,2% em comparação ao mês anterior (em abril, houve uma retração de 10,3%). Quando comparado a maio de 2019, contudo, o tombo foi de 24,6%.

A queda só não foi maior porque o setor de supermercados, que representa a metade do peso do indicador, teve uma baixa ligeira, de 0,4% na comparação mensal. Por não terem interrompido suas operações, já que fazem parte dos serviços essenciais, os supermercadistas não sofreram tanto com a crise. De certa forma até cresceram em comparação com maio do ano passado: uma pequena alta de 0,2%.

“Em alguns segmentos, como o atacarejo, o crescimento foi até mais alto, cerca de 10%”, diz Pedro Coutinho, presidente da Getnet.

O setor de vestuário foi o que apresentou a maior alta no mês e teve o dobro de vendas em relação a abril (103,5%). A queda no mês anterior, contudo, foi brutal: 62,4% – a maior do indicador em comparação a todos os setores.

“Havia um risco de que abril não fosse o pior mês para a atividade econômica, então, apesar dos resultados negativos no ano a ano, a leitura é que o pior ficou para abril”, diz Lucas Nobrega Augusto, economista do Santander.

A questão é que, apesar da economia ter saído do fundo do poço, ele continua sendo muito fundo. E como a curva da pandemia ainda não caiu, com o governo divulgando dados piores dia após dia, não é possível dizer exatamente quando tudo voltará ao normal. A comparação das vendas ano a ano expressam bem o tamanho do problema.

Na visão de Augusto, o comércio deve voltar a operar com 100% da capacidade em agosto ou setembro. Mas ainda há vários riscos que precisam ser contabilizados, como uma possível segunda onda de contágios.

De acordo com o economista, os próximos dias em países da Europa e até nos Estados Unidos servirão como exemplo do que poderá acontecer com o Brasil. “É um ótimo termômetro”, diz ele.

 

A recuperação será diferente

Apesar dos países em fase de reabertura trazerem uma fotografia importante, ainda não é possível dizer que o Brasil seguirá o mesmo caminho. O primeiro motivo é o fato de a pandemia estar longe de ter um fim por aqui. O Brasil já é o terceiro país com mais mortes e o vice-colocado em número de casos, atrás apenas dos Estados Unidos.

Os outros fatores são como as empresas estarão pós-pandemia e, também, a organização do governo para tomar medidas para contornar a crise que virá – especialmente se terá base no Congresso Nacional para aprovar pautas de interesse do Executivo.

“Tudo indica que abril e maio foram o fundo do poço, mas é difícil cravar, pois existem vários sinais a serem observados, como a confiança”, diz Rafael Cardoso, economista-chefe do banco Daycoval.

A confiança do mercado financeiro, no entanto, já existe. Por causa da liquidez do mercado internacional, com a injeção trilionária de dinheiro por meio de bancos centrais de países em todo o mundo, a bolsa de São Paulo vem registrando recordes após a pademia.

Apesar de ainda estar longe do pico de quase 120.000 pontos do início do ano, o Ibovespa, que é o principal índice de bolsa, já bateu 94.600 pontos na sexta-feira (6).

O mercado, porém, está descolado da economia real. No âmbito fiscal, as informações não são positivas. O governo perde arrecadação e aumenta gastos, o que fará com que a dívida bruta do país chegue a 94% ao fim do ano, segundo previsões do secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida.

Não por acaso, a expectativa de economistas é de uma queda brutal do PIB no segundo trimestre e também no acumulado anual. Nas previsões da consultoria MB Associados, a economia terá uma retração de 19,6% no segundo trimestre, em comparação ao mesmo período do ano anterior, e queda de 7,8% no ano. A 4E Consultoria, por sua vez, é um pouco menos pessimista: diminuição de 12,3% de abril a junho e PIB negativo em 6,1% em 2020.

Para se ter dimensão do tamanho do tombo, a perspectiva da 4E é que o Brasil voltará ao patamar econômico do ano passado somente em 2023. Se for levado em conta o PIB per capita, que é a divisão de toda a riqueza pelo tamanho da população, o país retornará aos patamares de 2013, valor recorde, somente em 2027.

Um dos fatores que poderá mudar essas expectativas, na visão dos economistas, é a celeridade na aprovação das reformas, em especial a administrativa e tributária. Neste cenário, as brigas entre os poderes redobram a cautela do economistas.

“A questão da pandemia é um problema para todos os países, mas a tensão política é uma questão que só o Brasil tem – pelo menos, nessa intensidade”, diz Juan Jensen, economista da 4E.

 

 

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